Como conviver com os defeitos do outro no casamento?
O casamento é uma missão que exige maturidade, amor e dedicação sem fim
Para responder essa pergunta, é necessário entender bem o sentido profundo do casamento. A união do homem com a mulher, no matrimônio,
tem dupla finalidade: o bem do casal e a geração e educação dos filhos.
Deus mandou ao casal: “crescei e multiplicai” (Gen 1,26).
Essa dupla atividade exige muito esforço, luta e graça de Deus. A
beleza do matrimônio está justamente em “fazer o outro crescer”, gerar e
educar os filhos
de Deus, os quais, um dia, vão habitar o céu. No céu, não haverá mais
casamento nem nascerão mais crianças. Essa bela missão Deus confiou aos
homens e mulheres nesta vida. Portanto, a grandeza sublime dessa dupla
missão é que deve levar o casal a compreender sua imensa
responsabilidade, tanto um em relação ao outro quanto em relação aos
filhos. É isso que deve estar subjacente a todo sacrifício que a vida
conjugal exige. É uma missão que exige disposição, maturidade, amor e
dedicação sem fim.
Missão do casamento
O casamento
não é uma curtição a dois, é uma missão. Não é uma vida só de prazeres e
alegrias, mas também de luta, abnegação, renúncias e sacrifícios.
A base do matrimônio é o amor,
o dar a vida pelos outros, o esquecer-se de si mesmo para fazer o
cônjuge e os filhos crescerem em tudo que é bom. São Paulo compara o
amor do casal ao amor de Cristo pela Igreja, que por amor se imolou por
ela.
“Maridos, amai as vossas esposas como Cristo amou a Igreja, e se entregou por ela” (Ef 5,25).
O que o apóstolo diz para os maridos vale também para as esposas. O
amor de um pelo outro deve ser o mesmo amor de Cristo, que o levou a dar
a vida até o fim pela Igreja. São João diz: “Tendo amado os seus,
amou-os até o fim” (João 13,1).
Jesus disse que ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida
pelo outro. Dar a vida significa gastar-se pelo bem do outro, aceitar-se
consumir como um vela que queima para iluminar e aquecer.
Compreendendo um ao outro
Todos os maridos e esposas têm seus defeitos e pecados; por isso,
todos têm a necessidade e o direito de serem amados e perdoados. Antes
de tudo, para conviver com os defeitos do cônjuge, é necessário
aceitá-lo na sua realidade. Nós não fabricamos uma pessoa, nós nos
casamos com ela como ela é, com suas qualidades e defeitos, virtudes e
pecados.
A primeira grande missão do casal
é um fazer o outro crescer com a sua dedicação. São Paulo ensina o
verdadeiro amor: “O amor é paciente, o amor é bondoso, não tem inveja
nem é orgulhoso. Não é arrogante nem escandaloso. Não busca seus
próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com
a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acabará” (1 Cor 13,4-8).
Para suportar os defeitos do outro, acima de tudo, é preciso a
paciência que tudo vence. Isso não quer dizer que se aceite ser
maltratado nem tolerar agressões físicas ou permitir que nos tratem como
objetos, mas saber aceitar o outro também quando age de um modo
diferente de mim. Não podemos nos colocar no centro nem querer que se
faça somente a nossa vontade. É isso que faz as pessoas impacientes, a
reagirem com agressividade, reclamação, lamúrias etc.
A sabedoria no relacionamento
Santo Agostinho ensinava que, para alcançarmos Deus, temos de
suportar aquele com quem vivemos. Ele dizia que “não há lugar para a
sabedoria onde não há paciência”.
Papa Francisco disse que “amar é ser amável. O amor não age
rudemente, não atua de forma inconveniente, não se mostra duro no trato.
Seus modos, suas palavras e seus gestos são agradáveis; não são ásperos
nem rígidos. Detesta fazer sofrer os outros”.
Os terapeutas conjugais recomendam nunca gritar um com o outro; não
jogar no rosto do outro os erros do passado; nunca dormir brigados; não
ser displicente, sem atenção com o outro; trocar as discussões por bons
diálogos e, quando tiver de chamar a atenção do outro, fazer com amor,
na hora certa, na privacidade, sempre lembrar de elogiá-lo.
Temos de ter compreensão com os defeitos do outro, porque nós também
temos os nossos; e quem quer ser compreendido deve também saber
compreender e tolerar os erros dele. Jesus manda que tiremos, antes, o
cisco do nosso próprio olho, antes de tirar do olho do outro. Se
tivermos de lutar contra o erro do outro, então, é preciso fazer com
sabedoria e amor, sem violência. São Francisco de Sales, doutor da
Igreja, dizia que “o que não puder ser mudado por amor não deve ser tentado de outro jeito, porque não vai dar certo”.
Aprenda a perdoar
Lembre-se de que se perde a caridade quando se perde a paciência.
Deus disse a Santa Catarina de Sena: “A virtude da paciência é o sinal
externo de que Eu estou numa alma e ela em Mim”.
Para conviver com os defeitos do outro, é preciso também não deixar
que o ressentimento se aninhe no coração, mas saber perdoar com uma
atitude positiva, buscando compreender a fraqueza alheia.
Não há dúvida de que a boa convivência só pode ser conservada e
aperfeiçoada com grande espírito de sacrifício. Isso exige de cada um
generosa disponibilidade à compreensão, à tolerância, ao perdão e
reconciliação. É claro que, para podermos agir assim, precisamos da
graça de Deus. Jesus disse “Sem Mim nada podeis fazer!” (João 15,5). É
preciso lembrar sempre disso, e sempre buscar o auxílio da graça de Deus
na oração, na meditação da Palavra de Deus, na Eucaristia etc.
São Paulo disse que o “amor tudo desculpa”. Isso exige não fazer um
juízo apressado sobre o outro e conter a tendência de condenar de
maneira dura e implacável: “Não condeneis e não sereis condenados” (Lc
6,37).
São Paulo também diz que “o amor tudo suporta”. Isso significa uma
resistência dinâmica e constante, capaz de superar qualquer desafio.
Evidentemente, para isso é preciso o dom precioso da fortaleza, dada
pelo Espírito Santo. Muitas vezes, um cônjuge, para salvar outro,
precisa dessa força sobrenatural; para muitos, é uma cruz que se carrega
pela salvação do outro. E a graça do sacramento do matrimônio supre essa necessidade.
A arte do silêncio
Muitas vezes, é o silêncio de um que acalma o coração do outro.
Outras vezes, será por um abraço carinhoso ou por uma palavra amiga.
Todos nós temos a necessidade de um “bode expiatório” quando algo
adverso nos ocorre. Quase, inconscientemente, queremos “pegar alguém
para Cristo”, a fim de desabafar nossas mágoas e tensões. Isso é um
mecanismo de compensação psicológica que age em todos nós nas horas
amargas, mas é um grande perigo na vida conjugal. Quantas e quantas
vezes acabam “pagando o pato” as pessoas que nada têm a ver com o
problema que nos afetou! Algumas vezes, são os filhos que apanham do
pai, que chega em casa nervoso e cansado; outras vezes, é a esposa ou o
marido que recebe do outro uma enxurrada de lamentações, reclamações e
ofensas, sem quase nada ter a ver com o problema em si.
Temos de nos vigiar e policiar nessas horas, para não permitirmos que
o sangue quente nas veias gere uma série de injustiças com os outros.
Temos de tomar redobrada atenção com o cônjuge, para que ele não sofra
as consequências de nossos desatinos.
No serviço e fora de casa, respeitamos as pessoas, o chefe, a
secretária etc., mas, em casa, onde somos “familiares”, o desrespeito
acaba acontecendo. Exatamente onde estão os nossos entes mais queridos,
no lar, é ali que, injustamente, descarregamos as paixões e o
nervosismo. É preciso toda a atenção e vigilância para que isso não
aconteça.
Extraído do site Canção Nova
Extraído do site Canção Nova
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